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SERIAM 20 ANOS LUZ?

“O que não está no Google, não está no mundo”. Ainda não é exatamente assim, mas a cada dia fica mais perto de ser. Da ameba ao Sumo Pontífice, passando por todo o espectro das coisas vivas, animadas e inanimadas, até os minerais. As artes em todas as formas existentes, os momentos de especial fruição, grandes construções históricas ou a casa onde você mora, está tudo ali. São as luzes do conhecimento, toda espécie de conhecimento, a luz do seu caminho.

Faz 20 anos que a Terra tem seu próprio índice. É o Google, portal de toda a Internet. Lá estão o presente, o passado e até o futuro, que nem existe. Desde o futuro agendado, pelo menos, até o futuro sonhado, mais fantasioso. O Google é a grande panaceia do início deste século. Os números, quase inútil falar sobre eles. Representam grandezas difíceis de imaginar. Por exemplo, a quantidade de informações processadas pelo Google em um único dia é algo em torno de 20 petabytes (o número dez, seguido de quinze zeros). Se considerar tudo que já foi escrito no mundo, em todos os idiomas, desde que a escrita existe, em arquivos computacionais somaria um total de 50 petabytes.

Acho que nada disso conseguiu impressionar você, não é mesmo? Nas últimas semanas você deve ter lido alguma outra coisa mais surpreendente. Que encontrou pelo Google, muito provavelmente. Se o Google fosse uma emissora de TV americana, há muito tempo já teria sido objeto de intervenção do governo, por causa da “audiência” hegemônica. É o endereço mais acessado da Internet, cerca de 63 mil vezes. Por segundo!

É aí onde está o assunto. O negócio Google é algo fantástico, que nesses 20 anos nos chamou atenção progressivamente. Algo muito diferente daquilo que nasceu para ser. Que foi se descobrindo ao longo do tempo, pelas funcionalidades que ele próprio ia revelando na vida das pessoas.

O Google é o espaço digital por onde todos passam, apenas passam. Não produz conteúdo e tem o maior conteúdo disponível. É apenas uma porta que, ao adentrar, você está no ambiente que queria, o que estava procurando.

MUDANÇAS RADICAIS

O grande site de buscas, porém, está se tornando o elemento mais devastador com o qual o mundo midiático já se deparou. E, ao contrário dos sobressaltos anteriores, esse caso está sendo cruel. Após a chegada do rádio, que fez tremer a imprensa de então, o que se viu foi uma potencialização das duas mídias. A TV também chegou assustando, mais o efeito prático confirmou as mesmas alvíssaras. A Internet talvez pudesse também ser conciliada, mas não com o Google.

Comerciais de TV traziam grandes produções. Primores em técnicas de iluminação, direção. Até o elenco. Você lembra daquele anúncio em que Michael Schumaker disputava uma largada com um avião militar de caça? Grandes vídeos da Coca-cola, cigarros Hollywood, lançamentos de carros de luxo. Foi desse nível de excelência de produção que saiu a maior parte dos diretores de sucesso no Cinema Brasileiro. Mas, no caixa dos anunciantes, nada disso demostrou melhor custo/benefício do que um “tijolinho” no Google. Aquele anúncio básico do básico, um retângulo com algumas palavras e um link.

A propaganda do tipo boca a boca, há muito tempo considerada a mais eficiente, foi superada pela tela a tela. Primeiro pela escala, mas principalmente pela personalização alcançada. Quando o servidor lê seu IP você deixa de ser um potencial cliente, como acontece nas outras mídias, para ser um quase-cliente. Sua barriga bateu no balcão de quem vende aquilo que procura. Aquele anunciante é parte da sua intimidade, o conhece melhor do que o companheiro de pelada. Ou a amiga do salão de cabeleireiro. Uma vantagem tão grotesca que permite ao Google dizer algo do tipo “só paga por clientes que entrarem na sua loja, em função do anúncio”. Toda a operacionalização por conta de bots que não custam salários nem benefícios, e são de uma eficiência notável.

O Consultor Neil Patel, relacionado pelo The Wall Street Journal entre os mais influentes do mundo, considera a tecnologia do motor de buscas do Google uma das mais complexas existentes. Taí, não é pra amadores. Todo mundo já ouviu falar em algum outro site de buscas, mas quase ninguém passa por eles. O Google domina 78% desse serviço. Mesmo assim não cansa de investir em aprimoramentos.

Essa performance inalcançável faz do Google um alvo, não apenas de polêmicas, mas de conspirações públicas. Especialistas de várias áreas inventam e propõem formas de estabelecer controles sobre o site. E isso só não deve ter acontecido até agora porque se trata de uma empresa nativa dos Estados Unidos, maior mercado mundial e que possui as forças armadas mais poderosas do Planeta. Que contam com a colaboração estratégica do site. Com tanto conhecimento sobre todos, o grande site de buscas está destinado a continuar colecionando polêmicas.

O PESO DO SUCESSO

A despeito de abusos, que em alguns casos aconteceram, essa coisa de ser único, o máximo, tem um preço. Tanto que até em suas virtudes o Google é criticado. Por exemplo, por oferecer pequenas “amostras grátis” de conhecimento capazes de simular, em vaidosos ignorantes, ares de intelectualidade. Os verdadeiros (intelectuais) protestam pois, esses fragmentos do saber podem levar pessoas a formar opiniões sem entender exatamente do que estão falando. Como se esse tipo de problema não acontecesse também entre os acadêmicos, por limitações pessoais ou até por vieses impostos durante a formação. O conhecimento sempre acrescenta. Porém, saber identificar, classificar e associar os fragmentos faz parte da consolidação do conhecimento como verdade universal.

A postura de erudito, a cultura cheia de estilo, podem ser simulados com mais eficiência, ou menos. Não há necessariamente uma relação com o verdadeiro saber. A estética do saber é a humildade. Se no passado, determinadas informações só poderiam ser obtidas em círculos restritos, hoje os menos estudados podem atenuar a ignorância passeando pelo Google.

Nesse contexto, há que se destacar o Wikipedia. A ferramenta colaborativa tem compromissos didáticos, universalistas e até fraternais. Uma linguagem de programação simples, abrindo espaço para que o conhecimento se manifeste, com as ressalvas devidas em cada caso. Quem já não usou, e com sucesso? Ainda assim, o wiki é o retrato do “conhecimento fácil” imputado ao Google.

Tem ainda o vício de se exigir uma certa disciplina, uma espécie de sacrifício devido ao conhecimento. A academia conserva e até reverencia esse sofrimento. Desde os tempos de Sócrates até as narrativas atuais de sucesso, há uma virtual expiação nas tramas do saber. Isso pode ser responsável pela ignorância, apesar da inteligência que determinadas pessoas, de fato, possuem. Uma visão elitista que, possivelmente, será ultrapassada por metodologias de ensino mais eficazes. Não causará nenhuma surpresa se essas novas metodologias incluírem ferramentas do tipo Google entre seus instrumentos transformadores.

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