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MAIS UM TÍTULO MUNDIAL. BOM OU RUIM!?

Dormir e trabalhar. São as duas coisas que mais tomam tempo das pessoas em geral. Os motivos são reciprocamente explicativos. Depois dessas duas ocupações o uso que as pessoas fazem do próprio tempo varia. Um provável terceiro colocado seria o hábito de assistir à TV. Mas no Brasil, em particular, existe uma concorrência muito forte. É o telefone celular.

Recente pesquisa divulgada pela grande mídia revela que ninguém no mundo fica mais tempo no celular do que o brasileiro: a média diária foi de 4 horas e 48 minutos no ano de 2016. Isso suscita explicações.

Um dado relevante para incluir nesta análise é o crescimento acelerado dessa nova mania verde amarela. Em 2012 a média nacional era inferior a duas horas por dia. Ou seja, em 4 anos mais do que dobramos a atenção dedicada ao pet cibernético. O que mais, de tão especial, teria acontecido no Brasil nos últimos quatro anos que pudesse aumentar tanto o interesse pelo telefone celular? A tecnologia é um bom começo para essa resposta.

A venda de smatphones – muito mais atraentes para o usuário do que os celulares tradicionais – vem crescendo rapidamente nesse período. No ano passado 89,9% do total comercializado no varejo nacional foram aparelhos do tipo smart. Os aplicativos OTT, como o Netflix, se expandiram e as redes sociais, que já tinham caído nas graças do brasileiro há tempo, ficaram mais à vontade com inovações nas plataformas móveis. Levando em conta que esses fatos são uma realidade global e não apenas brasileira, a avaliação da intensidade com que acontecem em cada país deve contribuir para explicar a primazia nacional.

Porém, alguns fatores muito nacionais devem ter jogado a favor do uso de celulares no Brasil. E nesse quesito pode haver razões nas quais não dá para projetar um orgulho de campeão.

TAMBÉM UM PASSATEMPO

Antes de prosseguir é oportuno olhar os concorrentes mais próximos. O segundo país mais vidrado em celulares é a China. A média por lá é bem inferior, 3 horas de 3 minutos por dia. Em terceiro lugar o Tio Sam, que não fez questão de honrar o America First que elegeu Trump. E olha que a distância ficou grande, com 2 horas e 37 minutos ao dia. Quase levaram uma macarronada dos italianos, que ficaram em quarto lugar com apenas 4 minutos a menos na média diária. O quinto tem praticamente um bloco, com 2 horas e 11 minutos na Espanha, um minuto a menos na média estão Coreia do Sul e Canada e em oitavo, com menos outro minuto estão os ingleses (2:09h). Alemanha com 1 hora e 37 minutos e França, com 1 hora e 32 fecham os 10 primeiros.

Veja só, o único cucaracha do grupo, o representante do Terceiro Mundo é justamente o primeiro colocado! É aí onde começa a ladainha vira-lata. Como a velocidade média da Internet no Brasil está muito longe de todos os outros, é de se supor que boa parte do tempo que passamos no celular fica por conta do tempo de espera para download/upload. A diferença de velocidade é tanta que, em 2016, comemoramos o 79o lugar no ranking mundial. E comemoramos muito! Porque o Brasil foi a nação que mais aumentou a velocidade de dados de 2015 para 2016. Imagine como estávamos antes.

A falta de infraestrutura mostra que temos um país enorme mas construímos um país pequeno dentro dele. Em extensão territorial o Brasil é o quinto maior do mundo. Mas faltam rodovias, as ferrovias são pequenas e capengas, aeroportos operam no limite, portos enfileirando até 100 Km de caminhões na espera para descarregar. Falta até rodoviária em muitos municípios de porte, sem falar na carência de água encanada, esgotamento, aterros sanitários, leitos hospitalares, etc, etc. O celular, com certeza, ganha espaço no meio disso tudo. No trânsito parado, na espera pela consulta, no atraso do voo e durante boa parte do tempo em que perdemos tempo. E ainda, na lista das mazelas, tem o uso dentro das penitenciárias, que é proibido e não deve acontecer nos outros países do topo da lista.

Então não há nada para festejar nesse primeiro lugar no uso de celular? Se existe alguma vantagem nisso vai ser difícil encontrar. Temos a tarifa mais cara do mundo e, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, já foi criada uma unidade específica para tratar pessoas viciadas no uso do celular. Sim, literalmente doentes por celular.

REMÉDIO E VENENO

O fato de o brasileiro ser um povo comunicativo deve influir pouco nesse comportamento. Senão o segundo colocado também não seria a China, um país não tão tagarela e com Internet limitada e vigiada pelo governo, por questões de “segurança nacional”.

Considere-se também que o celular se transformou mais em uma alternativa de isolamento do que de integração. Atualmente é até impróprio falar em “telefone celular”. Mais precisamente no primeiro trimestre deste ano as operadoras nacionais apontaram maior receita com o fluxo de dados do que por chamadas de voz. É outra tendência mundial, operadoras de telefonia se transformam em provedores móveis. Tudo bem, uma parte das conversas agora não paga impulsos porque é feita pelo WhatsApp e similares. Isso ainda pode segurar o status de “telefone” para o celular. Mas esses mesmos aplicativos são mais utilizados para tráfego de dados. Quantas piadas por dia você lê ou escuta por esses aplicativos?

Mesmo com todas as culpas que se queira lançar sobre o celular ninguém pode perder de vista o fato de que o aparelho representa um grande progresso para a sociedade. E ainda acelera o desenvolvimento de praticamente todos os segmentos da nossa vida. A questão, mais uma vez, está na dose. É o que faz a diferença entre o remédio e o veneno.

Em todo caso está lançado o desafio. Qual é a vantagem em sermos o país onde se usa o celular por mais tempo durante o dia? E numa dianteira que não é por “uma cabeça”, mas por um período 50% maior do que o segundo colocado. Se houver algum benefício nisso, favor divulgar o quanto antes por algum aplicativo para celulares. Será a maneira mais rápida de todo mundo ficar sabendo.

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