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A TELA DE TODOS E A TELA DE CADA UM

A TV cresceu e se tornou a mídia mais poderosa do mundo por ser a tela de todos. A divulgadora da mensagem ampla (broad) para todos ao mesmo tempo, isso é o mundo broadcast. De um lado a emissora, do outro, o “coletivo” audiência. Até que chegou a Internet dando nome, endereço e infinitas escolhas para cada um, atraindo fortemente o sucesso para suas telas.

Essa diferença entre “todos” e “cada um” pode ser uma equivalência. Na escola a gente aprende que “votar é dever de todos”, mas também “votar é dever de cada um”. Porém, na TV passa um programa para todos por canal, enquanto na Internet cada um escolhe seu programa em cada portal.

É esse dilema, quase filosófico, que o cidadão comum enfrenta hoje em dia na sala de estar. Um estudo feito no Brasil em 2015 já mostrava que, em 73% dos lares que tinham Internet, as pessoas navegavam – principalmente nas redes sociais – enquanto assistiam à TV. A “segunda tela”, mais comumente um celular ou tablet, já faz parte do ecossistema audiovisual. Tanto que vários programas e eventos são gerados no formato para duas telas.

O desafio agora é saber se uma única tela física pode atender as duas manias, de todos e de cada um. Esse desafio é o que se vê na HbbTV – Hybrid broadcast broadband TV, uma televisão híbrida que concilia, de forma atraente para o usuário, o uso da TV e da Internet. Não tem a ver com a smart TV que está na sua casa. Mas com um sistema de transmissão integrada, que vai precisar de televisores conectados de forma mais robusta do que se tem nas smart de hoje. Exige também um sistema de produção diferente, que permita ao telespectador o uso das duas potencialidades – da TV e da Internet – sem prejudicar o seu conforto.

No momento em que a Internet corrói os balanços das emissoras de TV, um grupo de emissoras abertas americanas acaba de ecoar um grito de guerra. Ou, pelo menos, um grito de bravura. De quem está se posicionando e não vai correr, embora aceite negociar. A boa notícia é que nessa disputa o único interesse é agradar mais a você.

COMPETIÇÃO OU COLABORAÇÃO

A coisa está fervendo! Na edição anterior deste blog o assunto foi a entrada da AT&T no mercado de Netflix e Amazon Prime. Os serviços de streaming, ou OTT, representam a principal ameaça ao modelo de negócios das emissoras de TV. Disney e Apple também já anunciaram que vão invadir essa praia. Pelo tamanho das empresas e valores de investimentos anunciados, a expectativa é de que estejam planejando corporações planetárias para simplesmente tomar o lugar das emissoras, substituí-las nas salas de todos os lares.

Agora, logo em seguida, um grupo de emissoras americanas, liderado principalmente por Fox, NBC e Telemundo, afirma estar disposto a introduzir o sistema ATSC 3.0 a partir de 2020. Muitos consideram o ATSC 3.0, também conhecido como New Gen TV (NGTV), o estado da arte entre os sistemas híbridos de TV. O lançamento oficial do NGTV foi durante os Jogos de Inverno da Coreia do Sul. Há um ano já está sendo testado em Phoenix, no estado do Arizona.

Esse grupo de radiodifusores, que comandam centenas de emissoras locais nos Estados Unidos, se comprometeram com investimentos e desenvolvimento de um modelo de negócios para explorar todas as potencialidades do NGTV. A transmissão é no padrão UHDTV (4K), som imersivo de máxima qualidade e vários canais de interação entre emissora e telespectador.

Oferece o streaming como alternativa e ainda, a possibilidade de segmentar as mensagens publicitárias. Num mesmo intervalo, vários comerciais são exibidos ao mesmo tempo, cada um destinado a um grupo específico de telespectadores. Para os anunciantes, atualmente esse é o principal diferencial em favor da Internet.

O hardware dos televisores para o NGTV foi projetado e fabricado pela LG e todo o desenvolvimento do sistema, desde o começo, conta com total apoio da NAB – National Association of Broadcasters.

A principal dificuldade para implementar o NGTV está no fato de que, até o momento, não existe um meio de adaptação. Tudo tem que ser trocado, como foi do sistema analógico para o digital. Além dos aparelhos de TV também devem ser substituídas os transmissores, equipamentos de codificação e multiplexação. Uma mudança que precisa ser aceita pelo público.

MUITA COISA EM JOGO

Sistemas de televisão híbridos de banda larga e radiodifusão estão crescendo pelo mundo. A rigor, a sigla HbbTV se refere ao padrão europeu, desenvolvido naquele típico modelo colaborativo para alta tecnologia, como o MPEG. No Japão, o modelo híbrido adotado pela emissora estatal NHK é mais simples, adaptável ao ISDB, que é a base do sistema brasileiro. A entidade responsável pela padronização do sistema brasileiro (Fórum SBTVD) acredita que o middleware Ginga, desenvolvido no Brasil, possa ser aplicável em um sistema híbrido similar ao japonês e já está trabalhando em uma nova versão do mesmo.

O que chama a atenção é a quantidade gigantesca de interesses envolvidos. A TV é o principal entretenimento no mundo. E utiliza uma das mais concorridas faixas de frequência do espectro eletromagnético. É a melhor faixa para a formação de grandes redes de cobertura. Esse gargalo – a frequência no espectro eletromagnético – é a grande ameaça para as emissoras. No atual cenário tecnológico, se essa faixa fosse destinada a outros serviços, como a telefonia móvel, seria o fim para as emissoras de TV.

Há também o lado da indústria do setor. Quantos novos tipos de aparelhos poderiam ser desenvolvidos para este ou aquele modelo híbrido? Ou seria melhor desenvolver mais aparelhos com comunicação puramente IP? Geradoras globais, conectadas a uma infinidade de sites locais, seriam bem aceitas pelos governos do mundo todo?

Tem ainda a questão geopolítica. Embora haja serviços OTT mais regionalizados – até a Globo já anunciou que vai tentar o mercado internacional – os cinco maiores, em condições de concorrerem em si, são todos americanos. Por que os japoneses, ou mesmo os europeus, que não têm um repertório de produções como as dos americanos, aceitariam entregar parte considerável do faturamento das emissoras locais para estrangeiros?

Por fim, há que se considerar a escala dos investimentos. O NGTV vai representar um aporte altíssimo, sem que ninguém tenha a certeza de que o público vá corresponder. Esse é o maior desafio! Por mais sedutor que um sistema seja num estande, nada garante que em casa ele vai continuar agradável no uso de todos os dias.

Tecnologias aparecem no mercado fazendo muito barulho e prometendo maravilhas. Muitas delas desaparecem em um ou dois anos. É o tempo para o consumidor incorporar ou cansar daquela inovação. É isso que os sistemas híbridos de TV precisam criar. Uma forma simples e confortável de entreter você com novos formatos e diferentes tipos de conteúdos.

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