sexta-feira, 24 de abril de 2015
A sedução de um striptease é uma imagem que impregna a mente dos adultos em geral. Muitos, rejeitando aquele poder lascivo, lúbrico, subjugante, outros, se entregando ao suspense de ver o tempo caminhar em direção ao desejo. E por onde começa um striptease? Qual o sinal ideal da superação das barreiras do pudor pela força de uma dominação primitiva? Pode ser um botão deslizando para o lado de dentro do tecido, um zíper escorrendo contra as tensões, ou um relógio que desiste do pulso, porque o tempo não vai mais passar para aquele momento. Este último, com certeza, marca a mais ousada investida da tecnologia sobre o seu prazer.
Apple Watch é o nome do gadget que acaba de chegar ao mercado para tirar, sedutoramente, o relógio do seu pulso. No lugar dele, com um design inspirado nele, estará alguém – ou algo – disposto a ser uma presença inseparável, a seu serviço, cuidando de você o tempo todo. Pretendente a ser sua nova paixão, Apple Watch vai ter um “guarda roupas” sofisticado, com pulseiras que podem ser de metal, de couro ou polímeros coloridos. O estojo pode ser até de ouro, rosa ou dourado e a tela, um olhar em cristal de safira, mais resistente e confortável para a sua visão.
Mesmo com toda essa frescura o mundo da moda não está “enchendo a bola” da última novidade da Apple. Estilistas de Givenchy, Chanel, Hermes, fizeram pouco caso do acessório. Talvez porque não desperte nenhum élan mesmo ou porque a aura comercial da Apple está saindo muito barata para a gigante da tecnologia. É tanta adulação na mídia para qualquer lançamento com a maçã, que os vendedores de anúncios resolveram que querem um pedaço da mordida icônica no fruto proibido.
MUITA INTIMIDADE
Por que essa presença inseparável pode cuidar de você? Do lado inverso do visor, quatro sensores encostam na pele. Vão acompanhar batimentos cardíacos, calcular as calorias perdidas. O Apple Watch vai saber quanto você andou, quantos passos você deu, se correu, quanto tempo ficou em pé ou na cadeira. E pode ser programado para avisar quando sua rotina está ficando sedentária naquele dia. Aliás, toda a sua agenda também vai estar lá e quando você quiser, vai receber um aviso vibratório no seu pulso. Como acontece entre muitos amantes, vai pagar suas contas, mas usando um aplicativo Apple Pay para lançamentos no seu cartão de crédito. Se você tiver um carro BMW ele liga e desliga o motor sem usar chave, o que deve valer em breve também para outras marcas. Em todo caso, se por enquanto preferir um táxi, lá está o aplicativo da Uber para trazer alguém até você.
Depois de tudo isso, é claro que Apple Watch vai entrar na sua intimidade. Facebook e Twitter já estão conectados, pode fazer e receber chamadas telefônicas, enviar mensagens escritas ou como emoticons. Porém, sendo de boa família, poderá deixar muitas coisas para o papai iPhone resolver pra você, via bluetooth. É claro que não iriam “furar o olho” do diretor da galinha dos ovos de ouro, ou melhor, a giga-linha de celulares da marca.
ACERTANDO AS CONTAS
Esse revanchismo do relógio de pulso deve demorar um tanto para acontecer. Se, depois dos smartphones, todo mundo achou que não iria precisar mais de relógio, ainda está difícil dar o troco, convencer que esse relógio tem algo a oferecer a mais do que já tem no celular. Enquanto acessório da moda, ainda não pegou. Enquanto caixa de aplicativos, a esperança fica por conta do WatchKit, um SDK para desenvolvedores, que podem transformar essa peça apenas “bonitinha”, pelo menos mais sedutora pela inteligência.
Nas vitrines, até das joalherias, espera-se vender esse encanto por até US$ 17 mil. Mas este é o preço de modelos muito especiais da linha Edition, que começa na faixa de US$ 10 mil. No outro extremo, o modelo com estojo de alumínio – uma liga 60% mais resistente, segundo os fabricantes – sai por US$ 349 na versão menor, porque o aparelho está sendo lançado em dois tamanhos. Tem ainda uma linha em aço inox, ao preço de US$ 549.
As pré-vendas começaram no dia 10 de abril, e devem atingir 10 milhões de unidades vendidas no primeiro ano de mercado, segundo analistas. A realidade desse sonho começa hoje, sexta-feira 24 de abril, quando os primeiros Apple Watch finalmente chegam aos pulsos dos compradores. Se vai rolar um “happyend”, os consumidores é que vão dizer. Por enquanto, para quem trabalha na área é bom começar a frequentar espaços de moda, de saúde, porque a mensagem dos últimos lançamentos tecnológicos tem sido cada vez mais claras: o planeta não é habitado por robôs, pelo menos por enquanto.
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