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O APAGÃO DE CANAIS E O BRILHO DE UMA NOVA LUZ

Duas empresas americanas, gigantes da comunicação, encerraram nesta semana um duelo no melhor estilo bang bang. As antigas parceiras “foram pra rua”, uma vez que se encararam em público com acusações, uma contra outra. Não chegou a “vias de fato” porque uma delas resolveu baixar a temperatura e propor um acordo. Mas o agito foi grande.

De um lado estava a Disney, o maior estúdio de Hollywood. Do outro a Charter Communications que, dentre outros negócios, está entre as três maiores operadoras de TV a cabo dos Estados Unidos. No final do mês passado as plataformas Disney ficaram indisponíveis para 15 milhões de clientes da Charter. Na tela da TV aparecia uma mensagem dizendo “oferecemos à Disney um acordo justo, mas eles exigem um aumento excessivo. O aumento do custo da programação é o maior fator no aumento dos preços da TV a cabo e estamos lutando para manter a linha nas taxas de programação que nos são impostas por empresas como a Disney.” A Disney desmentiu, dizendo que a antiga parceira havia rejeitado uma proposta “criativa”: “Ao contrário do que afirmam, oferecemos à Charter [as condições] mais favoráveis em termos de taxas, distribuição, embalagem, publicidade e muito mais…”. Dias depois o estúdio voltou à carga com mais peso. Sugeriu aos seus clientes que deixassem a Charter: “Os consumidores devem saber que têm muitas opções hoje e podem escolher entre provedores concorrentes de TV paga que oferecem todo o portfólio de redes e programação da Disney, bem como serviços de streaming de TV…”.

Os clientes das duas empresas não viram mocinho no duelo, apenas dois bandidos. Houve críticas, as ações das empresas caíram e nesta semana um novo acordo selou a paz entre as duas. No entanto, as consequências parecem ter ido bem além.

Em Wall Street e no mundo do entretenimento a briga chegou a ser considerada uma “ameaça de colapso do modelo de TV paga dos EUA”, segundo informa o site Digital TV Europe. A Charter, que tem outros negócios, nas telecomunicações, parece que não se preocupou tanto. No meio da briga ela anunciou que poderia deixar de vez o ramo, manifestando “indiferença” em relação ao que poderia acontecer. Num primeiro momento a Disney tentou surfar na mesma onda do adeus à TV paga. Afirmou que a TV linear “pode não ser fundamental” para seu futuro. Talvez este tenha sido o grande tropeço do Mickey nessa história. A TV paga oferece vários serviços mas, os canais lineares, aqueles que têm grades de programação semanal, de fato, são o principal negócio delas. Na tentativa de minimizar a importância dos canais lineares a Disney deve ter sentido, de várias frentes e até internamente, a imprudência da afirmação. Isso ficou evidente no comunicado conjunto assinado ao final da crise: “Este acordo reconhece o valor contínuo da televisão linear e a crescente popularidade dos serviços de streaming, ao mesmo tempo que atende às necessidades crescentes dos nossos consumidores.”

A TV linear é um hábito arraigado nos Estados Unidos, no Brasil e, possivelmente, nos países do mundo todo que assistem à TV nos últimos 50 anos. Faz muitas décadas que os americanos contam com mais de 100 canais entre as opções da tela doméstica. E o público sempre procurou seus canais lineares preferidos. Com a recente chegada do streaming e o vertiginoso sucesso, os produtores de conteúdo se viram nas alturas. Mas não deveriam ter sonhado tão longe. Pois, a esta altura dos acontecimentos, muita coisa mudou. Com a concorrência acirrada e muitos desafios a mais, o streaming vê seu futuro dependente da propaganda. E muitos estudos confirmam que a propaganda audiovisual funciona bem melhor na TV linear. Não é à toa que muitos serviços de streaming oferecem canais lineares 100% via web.

No final das contas, aquilo que pareceu um duelo entre dois gigantes, terminou como um barraco onde cada um teve que aceitar suas próprias limitações. Sim, a TV por assinatura está cambaleante. Mesmo os que só enxergavam uma crise generalizada, agora têm claro que a crise aumentou principalmente na TV paga. Ao mesmo tempo o episódio mostrou que outros segmentos, como o streaming, não podem pensar em abrir mão de um espaço de tanta tradição na memória dos consumidores. Mesmo enfraquecida, a TV paga tem importância. Nesse mesmo contexto se encaixa o grande crescimento que a NextGen, a TV 3.0 (aberta) americana, tem alcançado. Em pouco tempo pode se tornar uma luz potente e iluminar mais caminhos no mercado audiovisual. Por fim, a ideia de que uma inovação substitui por completo os tradicionais similares anteriores, se mostra um reiterado engano. Pode até acontecer, mas não é comum. Se tiver alguma dúvida, observe as charretes puxadas à cavalo que ainda circulam. Você vai encontra-las por todo o Brasil.

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