sexta-feira, 22 de abril de 2016
Se antes todo mundo ia de caminhão, agora é mais comum ir de carro. O destino em questão é o mundo virtual, a Internet, que está sendo mais acessada por celulares do que por PCs. O fato, revelado pelo IBGE no começo deste mês, suscita reflexões. Pode ser porque antes o “caminhão” do tipo desktop era indispensável, dado às pesadas ferramentas que teriam que ser carregadas para curtir devidamente o novo mundo, eletrônico. Agora, com processadores que fazem “centenas de quilômetros por litro”, dá pra ir e voltar muitas vezes, as ferramentas cabem no “carro”.
Essas mudanças de hábito são preocupantes para muitos. Com os dispositivos móveis o internauta chega ao território eletrônico num “veículo” com poucas janelas. A paisagem fica limitada, não se abre um monte de abas no navegador e o passeio vai direto a um ou outro endereço. Isso aponta para questões históricas ligadas à adaptação da vida real com a vida virtual. Chega uma hora em que perde a graça, a curiosidade em relação ao que se pode encontrar na Internet vai diminuindo. Mais fácil é usar o telefone de lá, o chat, a TV, sempre gratuitos e mais práticos, para resolver coisas por aqui, no mundo real. A filosofia ilustrada (e sonorizada) já cansou, as páginas cheias de botões também, sucesso são as conversas no Whatsapp.
Para quem faz a Rede funcionar isso muda tudo. A forma de se relacionar com a Internet altera os modelos de negócios que pagam a conta. Conteúdos mais enxutos representam menos oportunidades para a publicidade convencional. Tem que inventar outras formas de vender.
ISSO É QUE É BOMBAR NA REDE
O fenômeno da vez é este mesmo: Whatsapp. Nunca antes na história deste planeta virtual houve algo tão simples de ser usado e tão poderoso. Mandar um e-mail é complicado, comparado a brincar com vídeos usando o aplicativo. O conteúdo, os próprios usuários produzem, gratuitamente, personalizado para cada audiência. Tornou-se a metáfora do conceito de rede social, esticando olhos e ouvidos para os outros de cada rede, de forma muito espontânea. Tudo na conta de Mark Zuckerberg. Sim, o dono do Facebook, que comprou o Whatsapp, está pagando pra gente usar o aplicativo. Não tem assinatura nem propaganda. E com a recente mudança, a criptografia de cada mensagem, até a obtenção de informações sobre perfis e acessos parece inviável. O novo investimento do bilhardário fedelho só pode ser a telefonia móvel.
Parece brincadeira, aliás, como tudo na Internet. Mas todos estão acompanhando a movimentação das “teles” mundo afora, para cobrar pelo tráfego na rede. Sim, é pedágio a cada gigabyte rodado, tanto pra carro como pra caminhão. Quanto mais agora, que boa parte do faturamento com impulsos telefônicos foi dado de presente aos internautas. Quem quiser as facilidades do mundo virtual, para passar por cima dos serviços caros e complicados disponíveis no mundo real, vai ter que pagar mais. Como acontece também no caso do Netflix, a videolocadora mais barata e eficiente dos mundos.
O REAL, O VIRTUAL E O INTELECTUAL
O lado econômico da Internet é menos polêmico, porque continua dentro da pura matemática, que é a base de tudo que tem por lá. É o jeito para acompanhar algo tão volátil, que faz bilionários aparecerem da noite para o dia. O curioso é como as pessoas encaram o fenômeno social. Por exemplo, as redes sociais. Já se ouviu de tudo sobre elas, principalmente acusações. Fala-se de pessoas isoladas em seus celulares, quando na verdade a maioria delas está se relacionando com outras pessoas reais. Reclamam que ninguém se fala dentro do metrô, como se algum dia aquelas plataformas tivessem sido animadas rodas de conversas. O tradicional cidadão “ensimesmado”, diante da janela aberta para um muro de concreto, agora puxa a orelha do seu compadre para o seu perfil eletrônico e fala, em letras ou fonemas, o que achou do jogo de ontem. Nos últimos 50 anos, nunca as pessoas se relacionaram tanto quanto agora. Nunca se conheceram, ou se deram a conhecer tanto.
Enquanto os intelectuais procuram acusações mais convincentes, o grande risco continua no mundo real, onde atropelamentos acontecem de fato, muitos por excesso de atenção na janela do outro mundo. Tem ainda o desgaste visual e outras pequenas agressões aos sentidos. É verdade que, atraídas por suas próprias redes de relacionamento, as pessoas ficam menos disponíveis para as interações presenciais. Mas nunca isoladas, uma vez que essas redes de relacionamento, desde os tempos de chats e ICQ, já construíram muitos relacionamentos, até famílias.
Se há um justo protesto a ser levantado, com certeza, é a conta do provedor. Não precisa ser exagerado, tipo “pelo acesso amplo, gratuito e irrestrito à rede”. Mas que contemple a liberdade de trafegar, pagando um valor justo. As empresas de telefonia móvel nasceram e cresceram se surpreendendo com faturamentos cada vez maiores. Estão mal acostumadas. O fato de a Internet ter se diversificado e aprimorado tanto não se deve às teles. São apenas prestadoras de serviço de acesso portanto, que lucrem pela qualidade do que oferecem. Os lucros com a eficiência da rede devem ficar na conta dos internautas.
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