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O MUNDO INGRATO DOS NEGÓCIOS DA TECNOLOGIA

Ser consumidor está virando uma coisa engraçada! Cada vez mais idolatrado pelas empresas, adulado pelos vendedores, protegido pelas leis, … e cada vez mais perdido no jogo dos negócios. Já tem dicionário próprio para embrulhar consumidor. Por exemplo, “descontinuamos” significa “prejuízo total”. Então, se a bateria do seu notebook pifou e a assistência técnica disse que foi “descontinuada” a fabricação daquela bateria, pode jogar tudo fora. Consumidor tem até doenças no Cadastro Internacional da OMS, a mais famosa é “comprador compulsivo”, diga-se, responsável pela saúde de várias empresas.

Bugiganga eletrônica deve ter o vírus dessa doença aí. Que tem vírus, tem. Mas o problema é aquela coisa que a gente sente quando vê um novo gadget. Algo do tipo que faz um cachorro abanar o rabo. Sabe que aquilo vai ficar “velho” em menos de um ano e que, em três anos, tem grande chance de virar lixo. Mas você vai lá e pá… paga. Consumidor, afinal, é só uma entre as inúmeras “fichas” que se amontoam no cacife dos players que se sentam à mesa do grande jogo do mercado. Cada vez que você compra é como se alguém tivesse empurrado você para o centro da mesa, numa grande aposta. Só o tempo vai dizer qual a jogada comercial que vai levar aquilo tudo pra algum outro canto da mesa. O consumidor sabe que nunca vai sentar em alguma das cadeiras. Mas, para aquele que entender melhor as estratégias dos jogadores, esse desgastante vai e volta pode ficar bem mais ameno.

A indústria da TV, que enriqueceu muito nos últimos anos com a tecnologia digital, está preocupada com uma conversa do “croupier”, aquele cara que não manda nada, mas é cheio das regras. É ele que distribui as cartas na mesa. Ultimamente está falando muito em “união de esforços”, “não onerar desnecessariamente o consumidor”. Que papo é esse!?

DE NOVO A CONVERGÊNCIA TECNOLÓGICA

E se existisse um set-top box que permitisse exibir em qualquer aparelho de TV tanto a Internet como a TV digital aberta? Pois é, existe! Precisa de um hardware semelhante ao do set-top box que foi distribuído aos beneficiários do Bolsa Família em Rio Verde – GO (primeira cidade brasileira onde o sinal analógico foi definitivamente desligado). E precisa de um middleware, um programa como o Ginga. Mas teria que ser um “super Ginga”, ou seja, uma implementação um pouco mais elaborada do que o Ginga C. Uma solução razoavelmente simples de ser concretizada. As emissoras também teriam que acrescentar alguma infraestrutura.

Para o sistema europeu já existe esse set-top box e o middleware chama-se HbbTV. No Japão, o middleware é o HybridCast. Eles permitem interações tanto com a emissora, como na navegação normal pela Internet. Surgiram a partir de uma proposta da União Internacional de Telecomunicações, a UIT (ITU, na sigla em inglês), denominada IBB – Integração Broadcast (sinal de TV) e Broadband (sinal de Internet). As razões que levaram a esta proposta são muitas. Mas podem ser resumidas pelo grande ganho que propiciam ao consumidor – aquele mesmo, que as empresas idolatram! – com pouco investimento a mais dos fabricantes. Muito justo, para quem já pagou pelo televisor, pelo celular, tablet, … Isso sem contar a racionalização do uso do espectro, onde trafegam as ondas que fazem toda essa comunicação.

O Fórum SBTVD já atua no “Ginga IBB”, mas tudo indica que não vai ser fácil chegar ao consumidor. É que ainda não foi inventado um modelo de negócio capaz de fazer esse serviço render dinheiro, dar algum retorno ao investimento das emissoras. Mais do que isso, pode atrapalhar o modelo atual. Os aplicativos dos vários canais – tipo Globo Play – poderiam ser exibidos em qualquer televisor ligado num set-top box IBB. Porém, cada vez que um telespectador fizesse isso, estaria fugindo das mensagens publicitárias. Aquelas mesmas, que bancam a TV aberta.

OS ASSINANTES DE TV TAMBÉM FORAM LEMBRADOS

A onda da integração de sistemas digitais é assim, vai e volta. Nos Estados Unidos a FCC – tipo a “Anatel” deles – está propondo a integração nas caixas OTT, como o Chromecast, do Google. São serviços de streaming de vídeo que o consumidor pode ter a partir do momento que compra a caixa, que é exatamente um set-top box. Além do Chromecast tem a caixa da Apple TV, da Amazon Fire TV e da Roku, que domina quase metade do mercado. Cada uma delas vende mais de um modelo de caixa, acrescentando recursos na medida em que o preço aumenta.

Como órgão regulador, a FCC quer simplificar para o consumidor, propondo uma caixa única. A ideia é que cada operadora produza o próprio aplicativo em HTML5. O consumidor seria dono da caixa que ele escolhesse no mercado e poderia baixar o aplicativo da operadora que quisesse, com mais recursos ou menos recursos, dependendo do pacote. A questão está em consulta pública e a Roku sugere outro caminho. A empresa alega que o HTML5 deixaria os aplicativos mais “pesados”, demandando mais processamento.

E assim a onda da integração, cheia de boas intenções, pode se tornar mais um gasto inútil. Nada contra, mas a prática tem mostrado que o mercado de tecnologia muda muito rápido. Como a regra de sobrevivência recomenda a diferenciação, os novos sistemas costumam chegar com alguma coisa exclusiva. Quando o negócio de um novo sistema faz sucesso a concorrência aparece e, pra se justificar no mercado, também vai querer se diferenciar. Assim vai, até que num belo dia aparece um órgão regulador recomendando a integração. Ou melhor, “harmonização”, pra ficar mais zen. Êta mundo… cheio de onda!

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