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O QUE ELE TEM QUE NINGUÉM TEM

Enquanto uma plataforma digital o Facebook não parece nada complexo. Talvez possa ser categorizado como um chat com diagramação melhor e alguns recursos digitais que um álbum de família deveria ter. Ou, quem sabe, um macro blog ilustrado. Nada tão original, muito menos disruptivo. Principalmente por ter vindo depois do Orkut. É uma plataforma quase vulgar. Tanto que, quando os gêmeos Cameron e Tyler Winklevoss procuraram Zuckerberg – um colega de universidade, em Harvard – descreveram algo simples, que um estudante poderia desenvolver. Para eles, a plataforma deveria reunir amigos para postar fotos das colegas mais bonitas.

Vai demorar um pouco para entender tanto sucesso. Mas alguns pontos trazem fortes razões para que o negócio, inicialmente de Mark Zuckerberg e do brasileiro Eduardo Luiz Saverin, triunfasse tanto. Por exemplo, o marketing turbinado pelo filme “A Rede Social”. Também pelos afagos públicos do então presidente americano Barack Obama. Teve ainda o crescimento exponencial de gravações de sons e imagens, com a chegada dos smartphones. Registros que não tinham onde ser exibidos.

Já que é algo tão simples, então por que não criar um semelhante pra concorrer? Se essa questão já fez sentido algum dia, agora não mais. O negócio bilionário de Mark Zuckerberg nos últimos anos está investindo, num projeto específico, as várias fortunas que nunca precisou gastar. Matéria publicada no Washington Post informa que em 2022 a Meta direcionou 20% dos seus gastos com o Reality Lab, a divisão da empresa encarregada do desenvolvimento do metaverso. É onde está sendo idealizado o futuro da comunicação humana, segundo o pensamento de Zuckerberg. Um espaço virtual onde avatares de pessoas reais trabalham, fazem compras, se divertem e interagem de várias formas em mundos digitais imersivos. A ideia é que isso aconteça por meio de dispositivos de realidade virtual – óculos e fones de ouvido – que criem ambientes indistinguíveis do real.

Essa é a maior parte do projeto até agora: descrições, modelos, previsões, coisas que ainda não existem, soluções que ainda não foram inventadas. Elas estão sendo perseguidas por bilhões de dólares que a Meta não cansa de colocar na direção delas. A empresa comprou sete estúdios de realidade virtual – ou mais – para melhorar as dezenas e dezenas de aplicativos que vão rodar nos dispositivos que ela está desenvolvendo. Em 2021, poucos dias antes de mudar o nome da holding de Facebook para Meta, o plano era contratar, nos 5 anos seguintes, 10 mil trabalhadores altamente qualificados só na União Europeia. É assim que as coisas estão acontecendo. No ano passado a Meta lançou um fone de ouvido para realidade virtual. O Quest Pro chegou ao mercado por US$ 1,5 mil. Ainda não emplacou comercialmente.

Os dados parecem ser suficientes para afirmar que agora não dá mais para pensar em concorrer com o Facebook. Simplesmente porque o próprio Facebook não está conseguindo sustentar seus planos multibilionários. A Meta inflacionou o mercado de trabalho de desenvolvedores de alto nível. Especialistas apontam que a empresa está pagando “significativamente mais” do que muitas empresas de jogos. Esse é o perfil de profissionais – jogos – para os quais ela está pagando entre US$ 500 mil e US$ 1 milhão por ano. Principalmente especialistas em realidade virtual, ligados às empresas de games. Um especialista ouvido pelo Washington Post afirmou que “não é exagero dizer que a remuneração total deles é o dobro ou mais que o dobro do que você obteria em uma grande empresa de jogos.” Esses investimentos vieram numa onda onde Zuckerberg teria surfado com muito otimismo, apostando que o comércio eletrônico continuaria crescendo rapidamente após a pandemia.

Da realidade virtual para a realidade real, em novembro último a Meta fez a primeira grande demissão da história, foram 11 mil empregos. E já anunciou um novo facão em mais 10 mil postos de trabalho, muitos em funções administrativas. Por sinal, esse movimento de cortes de pessoal tem acontecido de maneira generalizada no Vale do Silício. O Layoffs.fyi, site que contabiliza demissões na região, aponta nos últimos dois anos 332.614 demissões entre Google, Apple, Amazon, além de várias startups. Já o Levels.fyi, site focado nos salários por lá, aponta que a média dos contratos da Meta para desenvolvedores de alto nível está em US$538.800, contra US$ 495.400 na média da Apple e US$ 440.000 no Google. Quer dizer, Zuckerberg ainda quer mais, não abandonou seus planos. Está trocando profissionais “padrão” por altamente qualificados.

O que o metaverso já conquistou é o título de um dos sonhos mais megalomaníacos dessas primeiras décadas do milênio. Resta saber quando o metaverso conseguirá atrair tantas pessoas quanto as que navegam hoje no Facebook e no Instagram, por exemplo. E se essas pessoas vão dispender o mesmo tempo que hoje dedicam às redes sociais. Seria um bom começo.

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