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PEQUENOS APARELHOS, GRANDES NEGÓCIOS

Tem aplicativo de celular pra tudo! Mas não pode ter sido o do filme “Missão Impossível”: “-Esta gravação se auto destruirá em 5 segundos.” (poff!!) Pelo sim, pelo não, fica aqui mais uma hipótese, entre as muitas que tentam explicar as “explosões” de alguns aparelhos Galaxy Note 7. As muitas informações nebulosas e desencontradas até dão um clima de filme de ação e suspense, como aqueles que Tom Cruise protagonizou. Já virou até crime federal subir num avião de carreira nos Estados Unidos com um aparelho desses. E os valores envolvidos por conta do episódio estão estimados em US$ 17 bilhões. Sem dúvida, uma bela trama!

Não é humor negro, porque nada é engraçado nessa história. Mas o suspense em torno do assunto está ficando cinematográfico. Há mais de 10 anos caíram em descrédito os e-mails com narrativas de explosões de celulares. O consenso que foi se formando era de que algo tão terrível teria maior repercussão, se realmente tivesse acontecido. E agora a gente fica sabendo que aconteceu! Nos primeiros casos do Galaxy Note 7 a Samsung, fabricante do modelo, chegou a trocar os aparelhos sinistrados por novos. A conclusão é de que é possível acontecer algo tão terrível como explodir um celular, e ninguém ficar sabendo.

A própria natureza do acidente é desconhecida. Fala-se em “explosão” nos títulos das reportagens, mas a sucinta descrição do que aconteceu, sempre cita combustão. Não se sabe quantas vítimas, nem em quais países, o que sofreram e sequer o nome de uma delas. Sinal de que um batalhão de advogados e assessores de imprensa deve estar negociando, pela empresa, de forma muito convincente.

AS CAUSAS

Os motivos técnicos do “defeito” – vamos chamar assim – ainda não foram anunciados de forma conclusiva. Mas telas, capas de plástico e chips não explodem, o que leva à bateria uma suspeita natural. As últimas gerações de baterias usam uma tecnologia conhecida como “íon de lítio”, que inclui um líquido altamente inflamável, protegido por uma blindagem. Elas são capazes de armazenar muita energia em exemplares muito finos e leves. Além disso, configurações do processador do aparelho podem acelerar o processo de carregamento da bateria, outro conforto que agrada os usuários, mas aumenta a temperatura. Suspeita-se ainda de uma falha de projeto, que teria colocado os polos da bateria muito próximos e mesmo o design do aparelho pode ter alguma culpa, por facilitar a pressão mecânica sobre a fonte de energia.

Um detalhe é que a Samsung seria a única entre as grandes fabricantes de celulares que testa suas baterias em laboratórios próprios. Em parte faz sentido, por ser a maior entre todas. Mas os testes em laboratórios credenciados, como fazem as outras empresas do setor, podem permitir uma visão mais ampla dos riscos, com base na observação de experiências por todo o mundo.

Por fim, tem aquele “componente” que fica do outro lado do teclado. Trata-se de um ser que, além das vestes, tem como acessório pessoal mais comum o celular. Isso dá uma ideia do tamanho da responsabilidade que pode estar nas mãos da indústria desse segmento. Uma responsabilidade que muitos desdenhavam, diante daquele aparelho tão íntimo e aparentemente inofensivo. O Galaxy Note 7, cuja fabricação já foi oficialmente encerrada pela Samsung, pode mudar a posição da empresa no mercado. O marca “Galaxy” possivelmente vai desaparecer, deve dar lugar a outro nome para enfrentar iPhone, Xperia, Moto, Pixel e tantos outros. Mas, o quanto o consumidor poderá se sentir seguro diante daqueles que inventam, a cada dia, uma nova forma de ganhar mais dinheiro?

A CAUSA POR TRÁS DAS CAUSAS

A indústria da tecnologia está dominando o topo dos negócios no mundo e essa tendência só deve se acentuar. O ranking das comoditties sempre estará bem próximo, mas nunca mais deve chegar ao topo. Os alimentos, indispensáveis à vida humana, não podem cair tanto, mas também nenhum deles vende mais do que o petróleo. A tecnologia, sim, deixou definitivamente o petróleo para trás. Na medida em que a tecnologia alcança um patamar tão importante, a pressa excessiva de lançar produtos surpreendentes no mercado, é um óbvio risco para os consumidores.

Nesta semana, o caso da Mineradora Samarco aqui no Brasil trouxe um alerta no mesmo sentido. Segundo a denúncia encaminhada pelo Ministério Público Federal, a ânsia de produzir mais e mais, a um custo menor, levou executivos da empresa a ocultar laudos e relatórios que indicavam o risco iminente de rompimento da barragem. Teriam até contabilizado os custos de um eventual desastre e optado por manter o mesmo ritmo, como alternativa compensadora. A Justiça ainda vai avaliar se as acusações procedem.

Força para tomarem essas decisões, as grandes corporações já demonstraram que têm. Por isso aqui, mais em baixo, o consumidor deve criar instrumentos de dissuasão de abusos nesse nível. Sim, celulares incendeiam e grandes barragens rompem. Falta decretar que grandes corporações e executivos gananciosos são submetidos a prejuízos brutais quando se atrevem a ignorar esses riscos na busca de lucros. E essa decisão nenhum juiz do mundo é capaz de tomar isoladamente. Tem que ter o mercado agindo ao seu lado, a população mostrando que não aceita ser cobaia.

Mesmo que todas essas notícias sejam apenas mal entendidos, já ficou claro que são possíveis. E o consumidor, até onde ele pode?

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