BLOG

O QUE PASSA HOJE NA BOLA DE CRISTAL DO STREAMING

A previsibilidade em um mercado pode ser um sinal de que aquele segmento de negócios já adquiriu uma razoável maturidade. Pode ser também que não tenha muito mais o que inventar. Esse parece ser o caso do que está acontecendo com o mercado de streaming, cujas previsões para o ano de 2024 foram bem apontadas, em 5 tendências, em matéria publicada pelo site TelaViva. A análise está bem fundamentada mas não se pode esquecer que previsões, acima de tudo, são grandes oportunidades de se incorrer em grandes erros. No caso, as tendências elencadas são para este ano de 2024. É um tempo razoável para se fazer correções e apresentar novos argumentos, de forma aceitável.

Nesses quase 15 anos de existência o streaming descobriu uma montanha de ouro sobre a qual Hollywood passava sem perceber. Além de um grande negócio, fez surgir do nada um gigante à altura dos maiores players do entretenimento no mundo, que é a Netflix. Deu um impulso impactante na indústria de televisores, de equipamentos de produção e gerou muitos postos de trabalho pelo mundo. Chacoalhou as estruturas da indústria cinematográfica e colocou de cabeça para baixo toda a cadeia de geração e distribuição de TV aberta e também fechada. Mudou radicalmente o espectro de uso da internet. Tanto que pôs em estado de guerra toda a base do setor de telecomunicações. Acima de tudo criou novos hábitos na sociedade e começou transformações cujo desfecho ainda vamos acompanhar por um bom tempo.

É sobre um passado tão tempestuoso que agora se quer projetar algum futuro. A começar pelos movimentos já em curso de unificação de plataformas, por enquanto, as da mesma marca. A pandemia colocou milhões e milhões de pessoas dentro de casa, o que equivale a dizer que o mercado de streaming deu um salto inesperado. De volta à antiga rotina, o consumo de filmes e séries diminuiu, tornando injustificável a Disney, por exemplo, manter paralelamente estruturas como Star+ e Disney+. Os dois passam a ser apenas Disney. Da mesma forma que HBO Max e Discovery+ ficam apenas Max. O fato é que a conta do happy hour na sexta-feira e do almoço no domingo voltaram a concorrer com os filmes e séries. A tendência de redução de custos do streaming, que já vem pelo menos do ano passado, não deve se alterar.

Em seguida a essa redução de plataformas, já em andamento, a segunda tendência destacada está nas coproduções. Como o Grupo Globo já anunciou com a Sony e com a Disney. O modelo vem do cinema e deve chegar até nas TVs por assinatura. Até a troca de títulos de sucesso entre plataformas deve acontecer. É a oferta de mais conteúdo para o assinante, com menos custos a serem repassado pela operadora, seja ela de qualquer tipo de serviço de distribuição de vídeo.

A terceira tendência é outra que só deve se acentuar. É aquela que quando apareceu no horizonte a Netflix disse que jamais faria. Os planos de assinatura com publicidade devem continuar crescendo. Nos 12 países em que a Netflix já implementou, a publicidade participa de 30% dos novos planos contratados atualmente. Os assinantes já fechados com a modalidade são em torno de 23 milhões, só na Netflix. O mesmo conceito está mantendo vários canais FAST, que são totalmente mantidos pela publicidade. É o modelo da TV aberta, num serviço de streaming. Essa modalidade, que cresce também no Brasil, só a Globo já tem 6 canais.

E pra falar de mais uma vez em que a Netflix queimou a língua, uma outra tendência para este ano é o crescimento de alguns novos gêneros televisivos, como a transmissão de eventos esportivos ao vivo. Claro que nessa, a Netflix já está batendo um bolão. As operadoras tendem a abrir espaço cativo também para realities e novelas. Sucessos como Verdades Secretas 2 e Todas as Flores comprovaram a força dessas produções no streaming. Pelo que já vem sendo anunciando, a fórmula de sucesso parece contemplar temas pesados, como submundo e sexo.

Se essas são as tendências para o meio campo e o ataque na disputa pelo mercado, a última só podia ser o “goleiro”. Aquele que precisa conter as perdas. No caso, a adoção de medidas contra a pirataria. As plataformas de streaming são vítimas de uma modalidade peculiar, aparentemente inocente. É o compartilhamento de senhas. “Se eu tenho direito a assistir, por que não posso transferir esse direito a um amigo quando não estou assistindo?” Não é bem assim. Mesmo que não chegue a ser negociada, a cessão da senha entrega conteúdo de graça, indevidamente, para muita gente. A regra não é essa e as plataformas querem moralizar a aparente camaradagem.

Nesse nível de observação fica difícil contestar essas tendências. No momento, estão bem presentes. Resta esperar para ver o que vai acontecer por trás das telas, com potencial de mudar a qualidade do que teremos diante das telas.

ARQUIVO DE POSTAGENS

Bitnami