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OS HERÓIS E A CHANCE DE OVERDOSE

O que é, o que é? Serviço de uso pessoal que em um ano, no Brasil, teve mais de 29 milhões de contratos rescindidos. Se você disse “linha de telefone celular” você acertou (ou quase!). Muitos até pensaram nisso, mas devem ter mudado de ideia porque, até há pouco tempo, a quantidade de linhas de celular só aumentava. Cair tanto assim, em tão pouco tempo, parece impossível. Mas caiu. É mais uma lei da natureza que se impõe sobre a força da tecnologia e os poderes do mercado. Foram mais de 29 milhões de linhas desativadas. O “quase” é porque as linhas desativadas eram pré-pagas. As pós pagas cresceram em 5,87% no mesmo período, uma boa taxa, mas que não consegue superar, nem de longe, os 14,3% de redução nas “pré”.

Um mergulho em alguns números desse mercado vai ajudar no raciocínio: depois desses 29 milhões de linhas desativadas, sobraram no Brasil cerca de 175 milhões de linhas pré-pagas. Representam praticamente 70% da telefonia móvel no país, sendo que os 30% restante são celulares pós-pagos. No total, são 251 milhões de linhas ativas. Considerando que o Brasil tem cerca de 210 milhões de habitantes – lembrando dos bebês, crianças abaixo da idade escolar, pessoas muito idosas e outros que não fazem parte do mercado – ainda é muita linha para as pipas das operadoras.

O fato é que a tendência continua sendo de queda. Um viés que se estabeleceu há quase um ano, quando o país caminhava para 280 milhões de linhas ativas. Até então, o saldo mensal só crescia. Os agentes desse setor já detectaram alguns motivos para o que está acontecendo a partir de então.

SE O CRITÉRIO É A ESPERTEZA, ATENÇÃO REDOBRADA

Hoje a crise tem um pouco a ver com tudo, aparece até em horóscopo. A situação das operadoras não é diferente. Elas pagam, entre outros, um tributo anual por linha ativa. Diante do aperto decidiram cancelar de uma vez várias linhas que quase nunca acrescentavam crédito, só recebiam chamadas. Só não pode esquecer que a situação foi criada a partir das estratégias das próprias empresas do setor, que mudavam sempre a relação com o consumidor.

Houve um tempo em que a oferta da vez era falar de graça entre linhas da mesma operadora. Talvez a aposta fosse que o assinante tentasse convencer os amigos a mudarem de operadora, divulgando vantagens oferecidas. Só que, na prática, o usuário pré-pago se virou comprando chips de outras operadoras, para trocar no aparelho, de acordo com o interlocutor a ser chamado. Apareceu até um monte de modelos de celulares com suporte para mais de um chip. Isso fez com que 90% das ligações passassem a ser entre linhas da mesma operadora.

A “barbada” agora são os “planos com minutos para outras operadoras”, o que tornou desnecessários tantos chips. Outro fator de redução de linhas pré-pagas são os chamados planos controle, onde o pacote de dados – o acesso à Internet – fica mais barato. Pronto! Taí o WhatsApp e a gangue toda de aplicativos para chamadas de voz via Internet, sem pagamento de impulsos. É assim que o assinante múltiplo está acabando, descartando chips inúteis e reduzindo o total de linhas ativas. E é assim que os caros impulsos da telefonia móvel estão diminuindo. O que você acha que faltou na estratégia das operadoras? Há controvérsias.

A QUALIDADE FIDELIZA OS CLIENTES

Um negócio transnacional, de alta tecnologia, que movimenta bilhões de cifrões diariamente. Não poderia ser algo tão simples de ser analisado, sobre o qual haveriam conclusões fáceis e evidentes. Porém, partindo-se do histórico brasileiro no setor, fica menos difícil conjeturar.

Telefonia, fixa e móvel, era um monopólio governamental no Brasil que precisaria ser privatizado. Assim foi, transferindo-se monopólios para empresas privadas. Uma insensatez! Começaram por reduzir custos, descartando aqueles empregados “chatos, cheios de protocolos técnicos”, que só impunham custos à empresa. As tarifas altas, que vislumbravam uma redução no ambiente de mercado, acabaram por ser majoradas. Afinal, se quiser, é isso. Se não quiser, também é só isso, não existia concorrência. E o consumidor cada vez mais acostumado a pagar caro por um serviço de baixa qualidade.

Foi nesse ambiente onde, depois de alguns anos, passou a haver concorrência. O preço se tornou o único critério de disputa, uma vez que a má qualidade já fazia parte da “cultura” desse serviço no Brasil. Os governos, em seus respectivos níveis, alucinados com o oportunismo tributário, coonestaram a estratégia de crescimento a qualquer preço, reduzindo custos em detrimento da qualidade dos serviços. Estão aí os Procons, Brasil afora, para comprovar.

Agora, com o calo apertado, as “teles” – é o apelido das operadoras – se voltam contra a tributação. Dizem que o custo do serviço que oferecem está entre os mais baixos do mundo, e é o imposto que aumenta tanto o preço final para o consumidor. O baixo nível de qualidade com certeza leva a crer que o custo dos serviços é mesmo baixo. Mas dizer que apenas os impostos encarecem é um contrassenso.

A UIT – União Internacional de Telecomunicações já apontou que a tarifa da telefonia móvel no Brasil está entre as mais caras do mundo. O órgão que representa as teles contesta, dizendo que a variedade de opções de plano oferece um preço médio nacional muito menor. Porém, não contam as trapalhadas que fazem nas contas telefônicas a partir dessa profusão de planos complicados. Mais uma vez, os Procons que o digam.

Operadoras confiáveis, oferecendo serviços de qualidade, com tarifação simples e preços justos, possivelmente fidelizariam muitos clientes e estariam mais tranquilas nesses tempos difíceis.

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