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TUDO JUNTO E MISTURADO… SÓ QUE NÃO

Salão de festas do condomínio. A família do 84 quer dar uma festa para o filho que vai fazer 18 anos no sábado. Ele passou no vestibular, superou alta concorrência, vai mudar de cidade. No mesmo sábado é aniversário da filha do preparador físico, que mudou há 2 meses para o 48. O síndico, que é farmacêutico e já foi duas vezes candidato a vereador, resolveu tentar uma conciliação: “-E se fizermos as duas festas juntas no mesmo dia? Os amigos do “bixo” vão conhecer as amigas da moça e vice-versa. Acho que convidados e convidadas, dos dois aniversariantes, vão gostar.” Olhares estranhos, ouvidos atentos, esperando quem vai ser o primeiro a falar. A mocinha pegou os cabelos com uma mão por trás do pescoço, jogou do outro lado e disse: “-Eu acho que tem tudo a ver, assim, sei lá…”

O clima mudou, tudo parecia estar resolvido. Até o dia seguinte, quando os dois lados começaram a se reunir para organizar a festa. Taí uma coisa difícil de se compartilhar num mesmo espaço. Na festa do rapaz todos os convidados iriam ratear a compra das carnes, cada um levaria algum salgado e o que quisesse beber. A festa da mocinha teria um churrasqueiro profissional que iria tomar conta de tudo. E os pais dela iriam comprar cerveja – das boas – refrigerantes e o gelo. Não dava para separar os convidados de cada festa. A coisa foi complicando nos detalhes. O rapaz gosta de rock, a mocinha é mais do pagode. Ora, mas tudo não é festa do mesmo jeito, não é música do mesmo jeito. Não mesmo!

Numa outra experiência, já aprovada, também está difícil conciliar duas formas diferentes de um lazer mais popular do que churrasco. Começam a surgir embaraços para compartilhar os televisores domiciliares entre TV aberta e streaming. Nos Estados Unidos e na Coréia do Sul a versão digital 3.0 da TV aberta já é uma realidade. E está sendo alavancada a um patamar que a TV aberta nunca teve no Hemisfério Norte. A Índia está trabalhando uma versão própria, mesmo sabendo que a transição para a 3.0 é cara. Exige trocas de equipamento de produção e geração das emissoras e trocas dos televisores nos lares.

Aqui no Brasil foi criado na semana passada um grupo de trabalho para regulamentar a versão 3.0 para a TV digital aberta brasileira. E não será mera burocracia. A TV 3.0 é um modelo de negócio completamente diferente de tudo que já passou pela sua sala. O perfil estabelecido para a TV 3.0 no Brasil vai misturar Internet com televisão de uma forma tão precisa que o usuário não vai saber de onde vem o que ele está assistindo. Afinal, tudo vai ser comandado por aplicativo. A qualidade audiovisual vai ser superior ao full HD, podendo chegar ao 8K. A recepção do sinal pode ser por aparelho fixo ou móvel. Sim, vai poder assistir normalmente pelo smartphone. O conteúdo vai variar por região, ou ser selecionado de acordo com cada usuário. Não gosta de futebol? Então tem muitos outros programas, de esportes a reality shows, passando por informativos, filmes, séries e novelas. Sem contar a facilidade para fazer compras, votar em enquetes, trocar mensagens ou até aparecer ao vivo no programa que estiver assistindo. Tudo isso já acontece em algumas emissoras de TV aberta nos Estados Unidos.

Você já percebeu que a TV 3.0 inclui o streaming. E, do outro lado, o streaming também está entrando de sola da TV aberta. Já tem grandes campeonatos e mega shows ao vivo, também jornalismo no streaming. E avança rapidamente para a forma de financiamento que sempre foi da TV aberta: a publicidade, para que o usuário não precise pagar nada.

Daí a gente olha o que aconteceu na BBC no domingo passado, na final de Wimbledon, quando o espanhol Carlos Alcaraz venceu o sérvio Novak Djokovic. Na transmissão aberta para o Reino Unido, o pico de audiência chegou a 11,3 milhões de telespectadores. No streaming, via BBC Sport e iPlayer, foram 54,3 milhões. É verdade que o streaming pode ser comprado em qualquer parte do mundo, vendeu bem também no Reino Unido. Mas a transmissão do evento esportivo em si se transformou num negócio muito mais rentável. Eles ainda não têm TV 3.0 por lá. Mesmo assim fica claro que tem muita gente preferindo o streaming – ainda pago – do que a atual TV aberta gratuita. Em menor proporção, isso tem sido observado também no Brasil.

Por aqui a TV por assinatura continua perdendo clientes mês a mês, então nem vai ser considerada nesta conversa. Mas, o modelo concebido nos Estados Unidos para TV aberta 3.0, que começa a ganhar versões próprias de outros países (Brasil incluso), está mudando o negócio “TV aberta”. O grande desafio é o investimento inicial.

As modalidades streaming e TV 3.0 ainda não declararam guerra pela disputa da tela do seu televisor. Mas já dá pra perceber que o compartilhamento vai ser mais difícil do que conciliar pagode e rock in roll.

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