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GOVERNOS E AS AMEAÇAS À SEGURANÇA NACIONAL

“Ele pode estar lá! Toda atenção é pouca.” “Onde você menos espera, está o risco.” “Procure nos vasos de plantas.”

Quase imperceptível, muito traiçoeiro, um mosquito, um pernilongo ou mutuca, é a grande ameaça ao povo brasileiro. Estamos em campanha há décadas, mas ainda não conseguimos superar esse mal, que supera a si mesmo na acumulação de novos vírus, novas doenças.

Os governos que entram e saem não conseguem dar novos rumos ao combate. O que lhes resta é apelar à população, repetindo campanhas que não trazem nada de novo.

Agora imagine um apelo de segurança apresentado conjuntamente pelo FBI, CIA, NSA e pelo Diretor de Inteligência Nacional dos Estados Unidos. Qual seria a causa capaz de exigir a manifestação conjunta de instituições tão poderosas? Seria uma bomba atômica nas mãos de terroristas em solo americano? Não, é a venda crescente de celulares chineses.

No último mês de setembro a marca Huawei vendeu mais celulares no mundo do que a Apple, perdendo apenas para a líder Samsung. A também chinesa ZTE é a outra companhia que os guardiães da galáxia estadunidense colocam abertamente como suspeita.

As empresas ainda produzem sistemas para infraestrutura de telecomunicações. De acordo com o site IDG Now, o Diretor do FBI, Chris Wray, disse que o governo não quer empresas ligadas a governos estrangeiros atuando no setor, dentro de suas fronteiras. A Huawei, por exemplo, desde 2014 está proibida de participar de compras públicas por lá. No ano passado ela quase lançou o modelo Mate 10 Pro em parceria com a operadora americana AT&T, mas as pressões políticas teriam inviabilizado o acordo.

Na última terça-feira, durante audiência do Comitê de Inteligência do Senado Americano, houve a recomendação explícita para que os cidadãos evitem usar produtos ou serviços dessas duas companhias chinesas.

ENTÃO É VERDADE, ISSO PODE MESMO ACONTECER? 

Aqui nesses trópicos, onde estamos “em desenvolvimento” há quase 50 anos, o discurso que chega é outro. Cuidados estratégicos em relação à tecnologia estrangeira são “meras teorias conspiratórias”, quando não “histeria de militares neuróticos”. Enquanto clientes, nós teremos “absoluto controle” sobre tudo o que vai e vem por esses sistemas.

O Diretor Chris Wray, do FBI, não pensa bem assim. Ele afirma que empresas que atuam na infraestrutura de telecomunicações podem alcançar a capacidade de “realizar espionagem não detectada”, ou “modificar e roubar informações maliciosamente”.

A Huawei teria contra si própria até a presença de seu fundador, um ex-engenheiro do Exército Popular de Libertação da China, o que dá à marca, aos olhos de vários políticos americanos, o status de “braço do governo chinês”. A desconfiança é tal que estaria sendo encaminhado um projeto de lei dentro do congresso americano, que proíbe funcionários públicos federais de usarem celulares das duas marcas chinesas.

Situações desse tipo colocam em cheque a hipocrisia globalista, segundo a qual precisamos apenas considerar as vantagens de ter alta tecnologia, ao menor preço possível, disponível para os consumidores locais. Esse tipo de pensamento só vale em relação às nações “café com leite”, aquelas cuja presença no jogo geopolítico pouco preocupa.

O mantra da globalização até já foi mais convincente, por exemplo, quando informática estava para os chineses, mais ou menos como o mandarim está para os americanos. Mas agora é diferente. Se falhas do tipo Spectre e Meltdown demoraram tanto tempo para serem, digamos, percebidas pelo Google, quem garante que os processadores chineses também não têm “lapsos” tão oportunos? Ou ainda, será que os chineses já tinham descoberto essas portas na tecnologia Intel e estariam fazendo uso delas? É difícil saber.

Mais difícil, a cada dia, está ficando o saber. A Sociedade do Conhecimento avança numa velocidade capaz de colocar de joelhos até as poderosas estruturas de estado. Há cerca de 2 anos, quando a Apple se recusou a quebrar o sigilo do celular de um cliente investigado pelo FBI, soou um alerta que o próprio governo americano desconhecia o tom. Ao contrário da indústria armamentista, muitos outros setores do mundo high tech pouco dependem de governos como clientes. São empresas estabelecidas mundialmente, que dizem “não” às autoridades parisienses, como o Uber, dão de ombros aos magistrados brasileiros, como o WhatsApp e que manipulam livremente dados pessoais de cidadãos do mundo todo, como Facebook, Google e tantas outras. Quem sabe mais, manda mais.

AFINAL, SABER O QUÊ?

Se o saber está se tornando a chave do poder, acima de qualquer estrutura, qual seriam os tipos de conhecimentos mais importantes? As pistas mais recentes indicam que seriam as Ciências Humanas, como gestão de pessoas, marketing, entretenimento.

Pelo menos é o que pode-se depreender de recentes comentários do americano Michio Kaku, reconhecido como um dos maiores físicos teóricos da atualidade. O nome e o fenótipo indicam que ele tem ascendência asiática, mas é nascido em San Jose, na Califórnia.

De acordo com Kaku o sistema de ensino americano é comparável ao de qualquer país de Terceiro Mundo. Isso nos dá a forte impressão de que ele não conhece o Brasil. Ou, de que nós não sabemos nada sobre o ensino básico nos Estados Unidos. Convém levar em conta o que o popular Professor Kaku, que tem 3 programas no Discovery Channel, está falando com veemência. Ele não escolhe outras palavras para tratar da questão, quando anuncia uma “geração de burros” que está saindo das escolas americanas.

De forma irônica, Kaku faz referência a uma “arma secreta” que estaria sustentando o sucesso tecnológico por lá. Chama-se “H1B”, e explica que esse é o código do visto para estrangeiros que chegam para fazer mestrado ou doutorado nas grandes universidades americanas. Sem isso, ele garante, a ciência pode entrar em colapso nos Estados Unidos.

O Prof. Kaku não fala nas ciências humanas, ao contrário, acha que é necessário mais físicos e engenheiros americanos. Mas ele se espanta ao perceber que seu país tem “o imã que suga todos os cérebros do mundo”. É daí que se obtém a licença para concluir que o conhecimento americano sobre marketing, relações públicas e, principalmente, sobre gestão, está entre os saberes que fazem o grande diferencial.

A ideia não é lançar aqui uma campanha de desenvolvimento da simpatia nacional. Mas atentar para detalhes capazes de destruir esforços que custam milhões em reais e muitos anos de dedicação. São vários os casos de cientistas brasileiros respeitados no Exterior, que produzem em grandes centros de pesquisas internacionais, mas não conseguem trabalhar por aqui.

Quem sabe, se a sociedade brasileira estivesse acostumada a menos mi mi mi, intrigas e melindres, algum dia possamos contribuir mais com a ciência. Afinal, o saber de que o mundo tanto necessita, cada vez mais deixa de ser domínio de um povo, para surgir de um arranjo de culturas, baseado no respeito e na tolerância.

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