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PRECISAMOS FALAR SOBRE TV 3.0 – (1)

Um drama de televisão, desta vez do lado de cá da tela. Aqui, no mundo real, toda a indústria da TV, da fabricação de televisores e equipamentos, às grandes produções, vive um suspense contagiante. E coloca como protagonistas cada vez mais segmentos sociais e empresariais.

Falar em TV 3.0 hoje não é exatamente uma novidade. É a nova TV digital que ultrapassa todos os limites. A imagem tem mais detalhes do que o limite que o olho humano é capaz de enxergar; o som é 3D, se espalha no ambiente como se o telespectador estivesse no local onde foi gravado; além de TV é também computador, internet, streaming e até um switch, onde pode-se escolher de qual câmera do campo você quer ver o jogo de futebol. Por isso cada canal terá um aplicativo onde você escolhe de tudo. Da mesmo forma que você escolhe escrever um texto com letra azul ou letra cinza no computador.

O que falta nessa trama é um olhar crítico para focar nos choques de interesses que vão determinar o quê e porquê vai acontecer. Antes de mais nada pode ter como certo que a TV 3.0, sim, vai chegar ao Brasil. Há tempo o governo reuniu emissoras, fabricantes de equipamentos, universidades, anunciantes, e trouxe todos os setores para um grupo de trabalho. Isso aconteceu na mudança do sinal analógico para o digital, em 2006. O grupo trabalhou muito bem e esse sistema virou um modelo para o mundo todo. É nesse mesmo sistema que está se implantando agora a TV 3.0. O grupo já avançou bastante e acabam de concluir testes de transmissão em laboratório. Até o final do ano já começam testes de transmissão em campo, na cidade do Rio de Janeiro. Depois o governo deve oficializar o sistema americano ou o japonês para o Brasil. Até o final de 2024 um monte de outros detalhes técnicos e regulamentações ficam prontos. Só então a coisa vai para a praça, para o mundo real, onde se define quem vai pagar e o que vai pagar. As previsões – otimistas – é de que estaremos em 2025.

A coisa é assim mesmo, acontece quando paga. Nos Estados Unidos, maior economia do mundo, uma população 50% maior do que a nossa, a TV 3.0 existe mas é opcional. A emissora que quiser oferece o sinal no ar e o telespectador que quiser compra um televisor 3.0. Lá o sistema chama ATSC 3.0 ou next gen TV. Há alguns meses apareceu uma solução muito importante por lá. É um conversor, tipo aquele da TV analógica para a digital. Mas é uma caixa com muito mais tecnologia, capaz da difícil tarefa de pegar o sinal da TV 3.0 e “traduzir” para um televisor digital normal. Assim a emissora que investir na mudança de sinal sabe que, de imediato, não vai ficar tão caro para quem quiser experimentar em casa. O conversor vai funcionar como uma “degustação”. Depois que conhecer todas as vantagens, o telespectador dificilmente vai deixar de comprar um televisor da nova geração, onde todos os recursos estarão disponíveis. A coisa está indo tão bem nos EUA que já discutem a possibilidade de passar todas as emissoras para o padrão 3.0 e acabar com o sistema digital mais simples, que está no ar atualmente.

Mas afinal, o que “está indo tão bem”, a ponto de tornar a TV 3.0 o padrão nacional? Mais uma vez, é o negócio que está indo muito bem. Além de todas essas vantagens para o telespectador, o novo sistema traz vantagens para as emissoras. Talvez a principal delas seja o que pode ser chamado informalmente de “intervalo multi-anúncio”. A TV 3.0 fornece para as emissoras, em tempo real, dados sobre as preferências em cada lar, os programas, os horários. Esses dados são relacionados com outras fontes, como o consumo daquele domicílio. Cruzando informações é possível compreender o perfil de cada domicílio. O sistema também permite que, num mesmo intervalo, dezenas de anúncios diferentes entrem no ar simultaneamente. Porém, cada um com endereço certo. Num domicílio onde o perfil é identificado como sendo de jovens, vai uma propaganda de um tênis esportivo. Para os perfis de meia idade o anúncio é sobre viagens e turismo. Os idosos devem receber comerciais sobre academias para terceira idade. E até um supermercado de bairro pode divulgar uma oferta especial para outro tipo de perfil, os moradores daquele bairro. Essa é a propaganda regional, que vai ficar bem mais em conta e pode entrar até em horário nobre. Então, o intervalo comercial que a emissora vendia para um único cliente a preço de ouro, vai ser vendido para 50 ou 100 clientes. Todos vão pagar menos, mas a soma geral vai ser bem maior do que um cliente forte pagava sozinho.

É bem provável que você já tenha ouvido falar disso antes. Pode até saber que isso é possível ser feito hoje em dia, com esse sistema que está no ar. Ora, então por que seria vantajoso mudar tudo? Ah, isso fica para o próximo artigo. Tem muitas questões a serem levadas em conta. É o que muita gente ainda não parou pra pensar.

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