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NÃO CONFUNDA EVOLUÇÃO POLÍTICA COM VOTO ELETRÔNICO

Mais um bonde da história vai passar pelo Brasil e pode não fazer parada. Esse “trem” – “mineiramente” falando, tão grande que é – comercialmente chama-se Internet das Coisas (IoT). São coisas interconectadas que se “entendem”, através de sistemas específicos, para nos dizer, por exemplo, a que horas passa o ônibus de determinada linha no ponto onde estamos aguardando.

Já foi tema de artigos por aqui e provavelmente vai se falar muito mais. Afinal esta área desafia qualquer projeção para o futuro, uma vez que ninguém consegue prever quanto este negócio vai crescer nos próximos dez anos. Uma previsão supera a outra, para maior, em alguns meses.

Pois é, os dados que indicam esse iminente atraso, estão na pesquisa realizada pela IDC para apurar o Índice Qualcomm de Inovação da Sociedade, divulgado no mês passado. O Brasil manteve o mesmo nível do levantamento anterior e IoT é o fator de maior peso no índice. Os organizadores do estudo exaltam os bons projetos brasileiros em diferentes campos de aplicação de IoT, mas concluem que “a execução é restrita e lenta”. Quem sabe bem como as coisas caminham por aqui deve entender melhor esses comentários.

FISCAIS ELETRÔNICOS SÃO INCORRUPTÍVEIS

Os dados que alimentam esses sistemas nem sempre são neutros. No caso do horário dos ônibus passando pelos vários pontos, para funcionar precisa armazenar informações que podem ser usadas na fiscalização do cumprimento de horários e da quantidade de ônibus em cada linha. Uma saia justa para prefeitos que sobem tarifas e pagam subsídios para essas empresas.

Numa situação semelhante, caracterizada como uso de inteligência artificial, o cruzamento de dados mostra a ameaça que esses tipos de sistemas representam para a esperteza oficial. Um deles, produzido de forma colaborativa e independente, analisa o reembolso de despesas dos deputados federais desde o último mês de dezembro. Leva o nome de robô Rosie, inspirado na empregada da série de animação futurista “Os Jetsons”. Só na primeira semana deste ano Rosie apontou quase R$ 380 mil de reembolsos considerados suspeitos.

A fonte principal de dados é a Ceap – Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar que, por força de lei, é publicada na Internet. O sistema cruza os dados com informações de mercado, posições geográficas, agendas, estatutos e destaca as excepcionalidades.

Naquela semana, os 629 reembolsos suspeitos, pagos a 216 deputados, traziam uma inocente nota de R$ 41,00 de um almoço em São Paulo. Nada estranho, se o deputado não tivesse feito um discurso na tribuna da Câmara, em Brasília, a apenas 35 minutos antes de terminar o tal almoço. O reembolso de três refeições no mesmo dia também não seria um exagero, mas duas delas foram feitas no Acre e a terceira no Rio Grande do Sul. O almoço de R$ 170,00 de outro deputado poderia passar tranquilamente, se a nota não fosse de um restaurante onde o quilo da refeição custa R$ 14,00. Todos gastos pequenos, mas que somaram R$ 380 mil só em uma semana. Quanto custaria e que tempo levaria para colocar pessoas fazendo todas essas checagens? Pois Rosie faz isso com uma rapidez impressionante.

Situações como essas mostram por que o cruzamento de dados concretos, como acontece também na Internet das Coisas, acaba sendo um tanto inconveniente para aqueles que teriam a missão de apoiar a tecnologia nacional.

ESTADO INEFICIENTE, PAÍS DEPENDENTE

Um outro estudo, também recente, realizado pelo Brasil e União Europeia, indica que a política pública brasileira para a tecnologia IoT teria como prioridade as cidades inteligentes, produtividade industrial, agricultura e transportes. O estudo, porém, cita entre as “dificuldades inerentes” a qualidade de conexão.

Olha elas aí, gente! Sim, as teles, que mereceram do Congresso, no final de 2016, um singelo pacote de bondades que papai Noel nenhum teria como carregar (ainda bem que foi suspenso a tempo); elas também tiveram, dia desses, o Ministro Kassab como “advogado” de um modelo de cobrança mais remunerador, justamente para as tais das conexões “não confiáveis”. Fiscalizar que é bom, nada.

Mas quem disser que o Governo mal aparece nessas questões está enganado. Com o Fistel, a taxa de fiscalização cobrada para cada dispositivo conectado, a IoT pode se tornar uma mina de tributos. Empresários do segmento acreditam que essa cobrança pode limitar muito o desenvolvimento dessa tecnologia por aqui. A conferir! Por outro lado, cabe destacar que o esforço para a formulação de uma Plano Nacional para IoT, está na fase de consulta pública.

A Internet das Coisas envolve principalmente o desenvolvimento de softwares específicos e, por isso, o Brasil pode avançar muito nessa tecnologia, com recursos próprios. O mercado europeu, que está próximo do Brasil nessa questão, também é pouco explorado por enquanto, o que representa mais oportunidades para tecnologias desenvolvidas aqui.

O que se observa é que, cada vez mais, o desenvolvimento tecnológico vai depender da evolução política da nação. E, ironicamente para nós, evolução política é o que não tem acontecido no país do voto eletrônico.

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