O STREAMING DEVE SUBSTITUIR A TV DIGITAL ABERTA?

Pensa num país grande, rico, com uma população de mais de 330 milhões de habitantes e que tem internet pra quem quiser. Agora imagine qual seria o acontecimento que tomaria 30% do tráfego de internet desse país que, você já sabe, são os Estados Unidos. Aconteceu no sábado passado, quando Dolphins e Chiefs se enfrentaram […]

Pensa num país grande, rico, com uma população de mais de 330 milhões de habitantes e que tem internet pra quem quiser. Agora imagine qual seria o acontecimento que tomaria 30% do tráfego de internet desse país que, você já sabe, são os Estados Unidos. Aconteceu no sábado passado, quando Dolphins e Chiefs se enfrentaram pelo campeonato da liga de futebol americano (NFL), disponível exclusivamente pela plataforma de streaming Peacock. De acordo com a Comcast foram quase 28 milhões de espectadores. Foi a maior transmissão ao vivo por streaming da história dos Estados Unidos. Até agora.

Transmissões desse tipo têm crescido ultimamente. E a explicação é o crescente interesse das grandes empresas do setor pelo esporte. A Netflix é uma das mais interessadas. Ela alterna a posição de maior empresa de streaming do mundo com a Disney, depois de um reinado de mais de 10 anos na liderança. Curiosamente, outro título que a Netflix também sustentou por muito tempo foi o de maior resistência contra os eventos esportivos no streaming. E por que isso não acontece de uma vez, não colocam tudo na internet e ninguém mais vai precisar de antena para se ligar aos grandes eventos esportivos, shows, grandes celebrações?

A resposta começa pelo inusitado da coisa: 30% do tráfego de internet de todo o país para um jogo da NFL. É muito espaço (de dados) para 22 jogadores. O streaming é um uso relativamente recente da internet. A grande rede foi concebida para muitas outras coisas e não apenas para transmissão de som e imagem, como é o caso do bom e velho broadcast. É aquela tradicional transmissão de TV, que chega pelas antenas. Um sistema que, depois de ser digitalizado, está cada vez mais turbinado. Com o crescimento de aparelhos do tipo CTV – a TV conectada, comercialmente conhecida como smart TV – o sinal de internet complementa o broadcast. O público que tiver esses aparelhos vai ter uma experiência praticamente igual ao que chegará pelo streaming. Com a diferença de que, numa CTV conectada a um sistema DTV 3.0, o jogo chega de graça, ou por um valor bem mais em conta do que só via streaming. A DTV 3.0, última geração da TV digital, tem a combinação ideal dos recursos do broadcast com o que de melhor a internet pode oferecer via streaming. Essa nova tecnologia já está em alguns países e tem um modelo brasileiro praticamente pronto. Numa grande transmissão internacional, como uma copa do mundo, se os recursos adicionais de internet ficarem saturados, o público terá garantido o conteúdo do jogo, nos moldes que tradicionalmente são apresentados. Já é uma grande segurança.

A segurança ainda é um calcanhar de aquiles do streaming. A pirataria nada de braçada, além dos riscos de ataques contra o sistema como um todo e contra os dados ou aparelhos do público. A rede da internet é muito mais fracionada do que a rede broadcast. E cada um desses segmentos da rede é susceptível a ataques com programas maliciosos. Por isso, mesmo nas transmissões feitas apenas para clientes de streaming, uma parte intermediária da rede de internet pode ser substituída pelo sinal broadcast. Não prejudica em nada o conteúdo apresentado ao público, é mais seguro e bem mais em conta do que utilizar somente a rede de internet no streaming.

A questão da sustentabilidade empresarial também é um desafio. Hoje o streaming depende de anunciantes para continuar crescendo. O broadcast, no modelo de TV aberta, tem quase 80 anos de tradição no mercado publicitário. Durante as últimas décadas do século passado foi muito caro. Mas também muito eficiente para quem podia pagar. Com a chegada da internet, os principais sites tomaram grande parte dos anunciantes da TV, tanto aberta como paga. Agora esses sites estão sendo pressionados na justiça, porque utilizam conteúdos produzidos pelas mídias tradicionais, como rádios, TVs e jornais. É fácil encontrar no Facebook, no Twitter e em muitas redes sociais, notícias publicadas por empresas jornalísticas. Os anúncios dessas plataformas, direcionados para públicos específicos, sempre foram mais baratos porque não havia custos além do crtl+c – ctrl+v. Agora a mídia quer receber por isso.

Um dos primeiros efeitos do streaming no mundo todo foi o cord cut. É o corte dos custos da TV por assinatura, para pagar muito menos por um serviço de streaming, que garante a programação premium,. A TV aberta, via broadcast, transmite a programação mais simples e é de graça. Agora, com sistemas DTV cada vez mais sofisticados e televisores com mais qualidade de imagem e som, falar em substituição da TV aberta pelo streaming é algo cada vez mais improvável. A digitalização do broadcast consolidou um sistema mais barato, mais simples e robusto. E que combina muito bem com a internet.

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