A BASE DO ICEBERG DO NEGÓCIO STREAMING

No final do século passado houve planos de reconstruir a Atlântida Cinematográfica, a mais bem sucedida companhia da história do Cinema Brasileiro. Em parte a Globo Filmes veio dessa ideia, porém com ambições mais tímidas. Eis que, nos moldes do século XXI, o Globoplay alcança potencial para resgatar o sonho da Atlântida de mais de […]

No final do século passado houve planos de reconstruir a Atlântida Cinematográfica, a mais bem sucedida companhia da história do Cinema Brasileiro. Em parte a Globo Filmes veio dessa ideia, porém com ambições mais tímidas. Eis que, nos moldes do século XXI, o Globoplay alcança potencial para resgatar o sonho da Atlântida de mais de 80 anos: colocar o cinema brasileiro como um produto competitivo no mercado internacional. Na época, o Brasil até alcançou muito prestígio na sétima arte, com produções de algumas companhias. Não foi além por causa de determinados gargalos, como a distribuição centralizada em poucas empresas estrangeiras e falta de um melhor entendimento com as salas nacionais.

Já dá pra ver que, para esses problemas, o Globoplay está muito bem preparado. Sem contar outras expertises exigidas nos tempos atuais. O comando do empreendimento hoje está nas mãos de Teresa Penna, que deu recente entrevista para o site TelaViva. É uma oportunidade incomum de conhecer, por um player respeitado no mundo – o Globoplay, um modelo de negócio tão recente e tão endinheirado como o streaming. Em se tratando de uma head sempre fica a cautela em relação a algum viés marqueteiro no que diz respeito à empresa. Mas os temas abordados não deram muito essa oportunidade e a executiva fez questão de exemplificar com casos reais. A boa notícia é que, na opinião de Teresa Penna, o futuro previsível para o streaming terá oportunidades para muitas empresas e profissionais empenhados em produzir conteúdo. Mas ela acredita que a quantidade de empresas atuando só na entrega deve diminuir. Ao contar parte da história da plataforma a executiva dá uma ideia da indústria gigantesca que serve de base para um menu de filmes e séries. Algo que o público só enxerga uma minúscula ponta, a partir do play.

Ela coloca que o Globoplay surgiu da profunda mudança de hábito do consumidor de audiovisual. De fato, todos observamos o surgimento de um grande número de produtores de conteúdo, o que fez os estúdios de Hollywood arregalarem os olhos. Todo mundo entrou na regata do streaming, cada um complementando com a parte que lhe faltava para tocar o negócio sozinho. Penna afirma que os investimentos foram escalando, as empresas estavam impressionadas com o consumo no ritmo das “maratonas”. Essa compulsão era insustentável e ela entende que agora as coisas estão se assentando dentro da realidade.

Com o tempo o assinante de streaming aprendeu a contratar um serviço para assistir a algo do momento e, logo depois, migrava para outro serviço e fazia o mesmo. O Globoplay ficou mais atento ao negócio em si, receita, margem. Optou por se apoiar nos próprios pontos fortes, a começar pela receita de anunciantes. “Nós já surfamos nessa onda do mercado publicitário há muito tempo”, lembra Penna. Hoje essa alternativa já foi assimilada pelos concorrentes. Mas o ponto forte está no “ecossistema Globo” que inclui estúdios para produção em escala, canais abertos e por assinatura, portais da internet, rádio, jornal. “Com isso, consigo rentabilizar meu conteúdo em inúmeras janelas, com os portais e programas da Globo noticiando tudo isso”. Tem também a forte parceria com a “indústria criativa brasileira”.

Ainda nas parcerias, assinatura combinada da Disney no Brasil só acontece com o Globoplay. Penna explica que “…temos uma plataforma de billing muito robusta”. Com a “…criação do Globoplay, percebemos que precisávamos construir uma máquina de venda direta ao consumidor. Depois, construímos uma estrutura de CRM muito pesada também.” Isso sem contar os 140 milhões de “globo IDs” ativos. É uma estrutura completa de marketplace. Isso atrai outras marcas para assinaturas combinadas, que são mais longevas. E hoje o Globoplay está na praça com Disney+, Star+ e Deezer. Outra estratégia que deve crescer são as coproduções, inclusive com a concorrência. “Nós e o mercado inteiro passamos a fazer isso. O dinheiro está curto, é um fato… O concorrente fez o conteúdo lá, eu fiz aqui, e agora vamos comprar um do outro.” Já existem acordos anunciados com a Disney e com a Sony.

Sobre o futuro a executiva entende que muitas marcas vão desaparecer em breve. Para ela Netflix, Amazon, Disney e HBO vão se manter em nível global. Nos países de maior potencial econômico devem permanecer cinco ou seis plataformas locais. Ao contrário de muitas apostas, ela acredita que TV aberta e os canais por assinatura não vão desaparecer. Atualmente mais da metade do conteúdo do Globoplay é consumido por TV conectada, o que demonstra a importância da tela grande. Embora ela não tenha se referido ao assunto, com a TV 3.0 todas essas possibilidades vão estar disponíveis, com máxima qualidade de som e imagem. Isso deve ter um grande peso no crescimento da indústria criativa no Brasil e no mundo todo.

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