Jogador de futebol? Modelo? Artista de novelas? “-Nada disso, quando eu crescer vou ser influencer.” A função, profissão, vocação ou simplesmente sem noção, garante que os influencers, acima de tudo, são. Se influenciam meninas a falar mais palavrão, ou meninos a fazer pipi sentado, o fato é que influencers são, causam e acontecem na sociedade. É isso que, desde o surgimento da comunicação de massa, começou a povoar os sonhos das crianças. Com uma bola, com a beleza física, ou outro talento de grande impacto social.
O outro nome dessa condição é youtuber. Isso é muito revelador, denomina a origem do fenômeno social. A materialização tecnológica do ideal do célebre cineasta brasileiro Glauber Rocha: “Uma ideia na cabeça e uma câmera na mão”. Nesse caso, um tanto parodiado, haja vista que a “ideia na cabeça” pode ser substituída por uma dança, caretas ou disposição para falar qualquer coisa. O YouTube é um dos fenômenos mais marcantes da internet até aqui. A capacidade que essa plataforma tem de agigantar qualquer coisa, ofuscou as dimensões da própria grandeza – que nunca foi tema do YouTube.
O site de vídeos, como era conhecido no início, marca o surgimento do que hoje é conhecido como streaming. É um modelo de negócio diferente daquilo que a Netflix criou mais tarde, um site de vídeos… mais específicos. E quem pensa que o sucesso do YouTube foi menor, comete um engano. Neal Mohan, atual CEO da plataforma, publicou no blog oficial da empresa um artigo, onde comenta alguns números. Espectadores do mundo todo dedicam, em média, um bilhão de horas para assistir a vídeos do YouTube pela TV. Isso acontece a cada dia. E faz com que as chances de surgirem mais influencers notórios seja maior do que fazer sucesso como jogador de futebol, como modelo ou artista de novelas. Já são mais de 3 milhões de canais no YPP, o programa de parcerias da plataforma. Relatório da Nielsen aponta que, nos Estados Unidos, nos últimos 3 anos aumentou em 4 vezes o número de youtubers – ou criadores, como o próprio site se refere – que fazem sucesso.
A aposta do YouTube nos criadores é alta. Nesse mesmo período de 3 anos a plataforma destinou mais de US$ 70 bilhões para eles, o que inclui desde as pessoas mais comuns até artistas e empresas de mídia. O valor é maior do que todo o investimento do governo brasileiro em obras e serviços públicos durante o ano de 2023. O CEO Mohan não acha que é muito. Ele vê os criadores como “estúdios (cinematográficos) de última geração”, donos de narrativas de alto nível que vão redefinir o futuro do entretenimento. Por isso a plataforma quer cacifar mais e mais toda essa turma. A inteligência artificial (IA) é uma das ferramentas sendo acrescentada. No ano passado a “Música dos Sonhos” veio para explorar as possibilidades da IA na música. Para este ano deve chegar a “Tela Fantástica”, outra ferramenta de IA, focada em empoderar os criadores na geração de planos de fundo para o YouTube Shorts. O objetivo é “ultrapassar as barreiras da expressão criativa” e despertar a criatividade em mais e mais pessoas. Mohan reivindica até um reconhecimento oficial do trabalho dos criadores pelos governos. Ele acha que os dados trabalhistas deveriam incluir esses profissionais, que atuam em tempo integral para um público internacional. Para este ano prevê ações junto à governos e legisladores. Vão apresentar dados econômicos da “profissão de criador” que são significativos em muitos países. Da parte da plataforma promete gerar mais formas de monetização para os criadores.
Do outro lado, o YouTube quer aumentar o número de assinantes. No YouTube TV já são 8 milhões de assinantes, no Music, 100 milhões, incluindo também a modalidade Premiun. Com um conteúdo melhor espera-se que esses números cresçam. Na visão de qualidade da plataforma a prioridade está no público infantil e na credibilidade das informações relacionadas a temas sociais e políticos. Mohan considera que o YouTube sempre se adaptou rapidamente aos novos desafios e não vai ser diferente em relação às deepfakes sofisticadas criadas com a IA generativa. “… Todas as nossas políticas atuais se aplicam ao conteúdo gerado sinteticamente, mas também vamos adicionar novas camadas de transparência e proteções”. Até os algoritmos estão sendo preparados para fazer recomendações aos usuários e destacar as fontes de informações mais confiáveis. Agora é aguardar os próximos meses para ver o que virá de concreto após essas importantes sinalizações, ainda genéricas.