sexta-feira, 14 de junho de 2024
Você já pensou em abrir um canal de televisão? Não, não é um canal pra você ficar falando, como os youtubers. Um canal variado, com filmes, shows, eventos esportivos, novelas, tipo SBT, Globo, Band, Record. Tem grandes empresas prontas para ajudar, tentando convencer muita gente a entrar num negócio desse tipo. E qual seria o interesse por trás disso?
Quem nasceu e cresceu aqui no Brasil tem mais facilidade para entender a situação. Há 50 anos abrir um canal de televisão era um empreendimento caríssimo. Primeiro porque precisava adquirir a concessão de um canal de radiofrequência. É daí que veio o uso do termo “canal” como sinônimo de emissora de TV. “-Qual seu canal preferido?”, perguntava o Ibope. A única tecnologia de transmissão para rádio ou televisão exigia que a programação fosse para o ar em frequências de radiodifusão. As TVs precisam de uma banda mais larga, no jargão dos engenheiros, um canal de frequências. Depois da concessão vem o investimento mais pesado. Câmeras, iluminação, switchers, estúdios, transmissores, torres… E muita mão de obra para pôr tudo isso para produzir, transmitir jogos, gerar telejornais, novelas.
Hoje, quase tudo isso já tem pronto no mercado. A banda larga de transmissão é da internet, não depende de concessão e nem de torres próprias. Para um canal FAST o capital inicial é uma pequena fração se comparado com o custo no passado. Alguma produção própria é importante, tem também que montar uma programação interessante com o conteúdo disponível no mercado e então… O passo decisivo é ter uma equipe de marketing que consiga vender as cotas de patrocínio. Eis o grande desafio que se renova a cada dia. Tem que procurar mais clientes, sempre há desistências, tem que provar que há retorno daquela publicidade. É o famoso leão a ser vencido a cada dia.
Você, que nasceu e cresceu no Brasil, mesmo sem saber viu o triunfo dessa batalha mais do que qualquer outra pessoa do planeta. As economias mais desenvolvidas implantaram o modelo de TV a cabo. Na Argentina, que na metade do século passado era uma economia maior do que a brasileira, a TV paga chegou faz tampo. O Brasil, por força de alguns empreendedores muito competentes na comunicação, a TV aberta e gratuita alcançou muita qualidade. Conquistou a audiência e um lugar entre as melhores do mundo. Tudo de graça, ou melhor, vendendo propaganda para anunciantes que assim pagam a conta.
Esse modelo de negócio é precisamente o que o mundo do entretenimento acredita ser a salvação. O sucesso estrondoso do streaming, iniciado há pouco mais de dez anos, logo fez surgir uma concorrência quase predatória entre as plataformas. E agora? A única saída são os anúncios. Quem tem essa expertise é a TV aberta do Brasil. Faz décadas que as emissoras, agências e anunciantes conversam o dia inteiro, todos os dias. E pensar que há dez anos a grande aposta era que a TV aberta iria desaparecer. Hoje grandes grupos tentam dividir ao máximo a receita publicitária, entre milhares e milhares de pequenos canais. Possivelmente para aumentar bastante a compra de conteúdos produzidos pelas grandes plataformas globais.
A TV aberta também entrou no streaming, se adaptou e está mostrando vigor. Em comunicado divulgado recentemente a TV Globo divulgou crescimento de 12% no primeiro trimestre deste ano, comparado ao mesmo período do ano passado. Isso representa uma receita líquida de R$ 3,7 bilhões. A tendência de crescimento da receita está se mantendo principalmente do lado da publicidade. No trimestre, os anúncios garantiram 64% da receita, mesmo com o crescimento das vendas de conteúdo direto ao consumidor. Foi a maior receita publicitária trimestral dos últimos 10 anos.
Parece que não se trata de um caso isolado. A plataforma gratuita de streaming +SBT, que vai ser lançada só no próximo semestre, já vendeu todas as cotas de patrocínio. Segundo o SBT foi um recorde de vendas para clientes como Coca Cola, Caixa, Seara, grupo Boticário, Unilever. A plataforma vai oferecer ao público a programação ao vivo, programas de maior sucesso, canais FAST com temas diversos e um catálogo variado on demand.
Executivos do SBT, como também da Globo, já comentaram várias vezes a importância da TV aberta para potencializar o streaming. Será sempre uma vantagem considerável diante das plataformas que só chegam pela internet. Com a TV 3.0, a nova geração da TV digital, essa vantagem tende a crescer muito. Ainda há várias etapas para se chegar a essa nova tecnologia no Brasil. Porém, já tem quem aposte que a próxima Copa do Mundo, em 2026, vai trazer a TV 3.0 para o Brasil.
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